1000 Formas de não dizer nada

Sábado, 2 de Outubro de 2010

O Entrevistas Fictícias volta com mais uma entrevista a uma figura importante (ou nem por isso) do Reino de Portugal. Temos a honra de trazer até si o pensamento de Matheus Ildefonso Luiz Martins de Almeida e Miranda, mais banalmente chamado 1000faces por todos aqueles que acham o seu nome tão comprido e enfastiante como os textos que escreve.
Idealista ou idiota? Sonhador ou pesadelo? Criativo ou palhaço? Decida você... isto é, se tiver melhor poder de decisão que aquele que é reconhecido ao nosso entrevistado.

Entrevistador - Caro 1000faces, obrigado por nos conceder esta entrevista. Gostaria de começar por lhe fazer a pergunta que todos fazem. Qual a origem do seu nome?

1000faces - Ora ainda bem que me pergunta isso, pois o meu nome tem gerado muita polémica. De facto é uma história muito simples. Ainda antes de eu nascer quando o mundo era jovem e os seres humanos...

E - Vai ser muito longo? É que temos pouco tempo.

1000 - Ah, percebo. Então eu conto de uma outra forma. Era uma vez uma linda princesa que morava...

E - Não vai começar outra das suas aborrecidas lendas, pois não?

1000 - Se preferir que use dois fantoches e conte como um teatrinho também posso.

E - Não obrigado, passemos à frente. Os seus críticos acusam-no de nunca tomar partidos. O jornal "O Credível" chama-lhe mesmo o "neutrão". O que tem a dizer quanto a isto?

1000 - Bom, uma parte de mim concorda e outra discorda.

E - Isto é, gosta de dar sempre uma no cravo outra na ferradura.

1000 - Na verdade nem o cravo nem a ferradura me fizeram mal algum, prefiro não os incomodar.

E - Mas não há ninguém que deteste mesmo, mesmo, mesmo? A quem queira apanhar num beco escuro e dar uns pontapés bem colocados nas partes íntimas, sem que se saiba quem foi?

1000 - Eu gosto de toda a gente. Mesmo daqueles que se julgam meus adversários, mas que sinto como grandes amigos. Se os confronto é só por amor.

E - E não irá nunca decidir-se por uma carreira política?

1000 - Talvez sim, talvez não. Tenho mesmo que responder a isso? Não me queria comprometer com uma resposta. Na verdade sempre que vou tomar uma posição sinto uma coceira numa orelha e viro para esse lado, mas logo sinto outra na outra orelha, e fico a meio caminho.

E - Portanto é assim como os burros, mas sem puxar carroças?

1000 - É uma questão mais filosófica. No fundo gosto de todas as pessoas e não quero ir contra ninguém. Já me dizia o meu bisavô que há muitos, muitos anos...

E - Senhor 1000faces, o senhor nunca conheceu o seu bisavô!

1000 - Conheci sim, em histórias de encantar.

E - Portanto continuará a falar, mas ninguém o verá a fazer nada?

1000 - Eu não faço nada? Mas quer alguém que tenha dado mais ideias a este reino? Olhe o caso do diário legislativo e da cunhagem da moeda.

E (sarcasticamente) - Sem dúvida coisas que mudaram o reino. E ideias válidas já teve alguma?

1000 - ... e o jornal "O Descobridor", e a Real Academia de Letras, e a Companhia de Teatro "Os Lisboémios", e...

E - Está ciente que graças a tantas ideias apalhaçadas como essas é conhecido como "o idiota do reino"?

1000 - Apalhaçadas? A ideia de termos uma Constituição foi minha.

E - Pois, acredito. E se calhar a de termos um reino com três condados também.

1000 - Sim, sim. Eu já tinha tido essa ideia antes de nascer. Foi num tempo obscuro, quando a terra e o mar ainda estavam em formação, havia só um lindo unicórnio que...

E - Arrgghhh mais lendas não, por favor! Olhe, vou ali beber um copo de água e já volto.

1000 - A água também é ideia minha, fui eu que sugeri a Jah que criasse os pontos de sede...

E (voltando, mas escondendo o rosto atrás o braço) - Tenho aqui um novo decreto que proíbe as pessoas de contarem lendas. Foi aprovado hoje mesmo n'As Cortes. E proíbe as pessoas de fazerem teatros em que chamem outras de Ambrósio...

1000 (perplexo) - Conde Nortadas? É o senhor?

Entrevistador foge, e volta de novo, de rosto escondido, só mostrando um farfalhudo bigode - Caro neutrão, podia-me explicar essa obsessão com o Conde Nortadas? Soa a amor não concretizado, será que ainda vos vamos ver juntos nalguma actividade sexual pouco aristotélica?

1000 (ainda mais perplexo) - Mas... você é aquele senhor do Credível, o que me persegue em todas as edições? Como é que... onde está o entrevistador original?

Entrevistador bigodes sai e regressa o original - Portanto, falávamos da sua idiotice, e...

1000 - Mas quantas pessoas vêm aqui disfarçadas para me entrevistar? O Conde Nortadas, aquele senhor do Credível...

E - Pronto, pronto! Lá porque tem 1000 faces não tem que ver uma multiplicação de entrevistadores.

1000 - Mas é verdade! Ninguém me compreende, eu só quero ajudar, e todos me atacam! Tento ensinar boas maneiras ao reino e ainda me criticam!

E - Pois, pois, já conheço essa lenda. É aquela do dragão, não é? Valha-me Jah e os santos da Igreja!

1000 - A Igreja? Fez bem reparar, a Igreja foi também ideia minha, quando um dia dormia e me caiu uma melancia na cabeça e...

E (enfastiado) - Sim, essa é aquela lenda do tapete voador, também já li. Avancemos!

1000 - Mas um dia hei-de mudar o reino, hei-de torná-lo um local de paz e amor, onde todos os clones dançam juntos nas minas como os anõezinhos daquela princesa da maçã, os políticos cantam canções de amor uns aos outros como na lenda da bela e o monstro, e os ricos são mentores dos recém-nascidos correndo juntos pelos bosques como na história do pequeno leão, e....

E (adormece a sonhar com fadas nuas)

1000 - ... e as Entrevistas? Foram ideia minha... A própria escrita fui eu que inventei...

A equipa do Entrevistas Fictícias entra a grande velocidade, amordaça 1000faces, e retira-o à força da redacção.