O Entrevistas Fictícias lamenta a morte de Dom Nortadas de Albuquerque e endereça as suas mais sinceras condolências à sua família (procurámos amigos que não fossem da família, mas não encontrámos).
Dom Nortadas, ficará para a história como o maior inspirador deste jornal, e o criador dos dois mais importantes marcos da retórica do reino. Referimo-nos a "acho muito engraçado..." e "já estão a transformar isto num circo".
Sempre que alguém repetir estas frases saberemos que o espírito de Dom Nortadas está entre nós.




quarta-feira, 4 de abril de 2012

Até que a morte nos separe...

Sempre atento às necessidades do reino (assim estilo sanitário psicológico), o Entrevistas Fictícias traz finalmente a mais desejada das entrevistas. Antes que a morte o leve e os festejos comecem, leiam aqui as mais importantes declarações de sempre de Dom Nortadas I (ou II... ou III), Rei de Portugal.


Entrevistador - É uma honra termos connosco Sua Majestade Dom Nortadas Eduardo de Albuquerque, rei de Portugal, que acedeu conceder-nos uma entrevista...

Nortadas - Olhe senhor entrevistador, antes de mais mostre-me onde está o Regimento desde Jornal!

E - Regimento?

N - Não me diga que este jornal não tem regras aprovadas! É inconstitucional, ouviu? Inconstitucional! Quer ver que tenho que emitir um édito a criar um Entrevistas Fictícias de iniciativa régia, e nomear o Monsterguid como director?

E - Por quem sois, Vossa Majestade? O nosso jornal sempre vos tratou bem, fomos até os primeiros chamar-vos rei, ainda nem as eleições haviam sido previstas.

N [tirando a coroa] - Não ouço nada, eu sem coroa não ouço nada e pronto. Fale homem, fale o que quiser, e eu faço de conta que você é o Abraz. la, la, la, la, la...

E - Mas Vossa Majestade, assim como fazemos esta entrevista que o vai imortalizar?

N [colocando de novo a coroa na cabeça] - Pronto, assim já ouço de novo. Qual era a pergunta? Querias-me beijar a mão, não é?

E - Mmmm, não era bem isso...

N - Ah não queres beijar-me a mão? És como o Marquês que não se curva? Tenho que te revogar é?

E - Mas Majestade eu nem sequer sou nobre...

N [gritando para trás de si] - Ambróooooosio, anota aí: Criar o beija-mão dos plebeus. Ou melhor o beija-pé que sabe-se lá onde é que os plebeus andam com a boca.

E - Majestade, agora que o seu reinado está a chegar ao fim...

N [enfurecido] - A chegar ao quê? Olha que te atiço o cão. Vai-te a ele, vai!

[um pincher minúsculo com uma batina vestida, que dormia por terra, rosna ameaçadoramente]

E - Ora Vossa Majestade, segure lá o cão, não foi por mal.

N [para o cão] - Pronto Syl, deixa o senhor em paz. [e para o jornalista] Coitado, encontrei-o à porta do ERP, tinham-no tratado mal, mandei logo fazer uma auditoria aquilo.

E - E sobre o fim do seu reinado?

N - Não acredite em nada do que se diz, a menos que tenha o meu selo régio. Até eu desconfio das minhas próprias palavras, até ver o selo régio no fim. Só quando vejo o selo é que descanso.

E - É que se diz que a morte anda aí.

N - Anda? Só se vier nalgum grupo de castelhanos, desses que invadem o reino dia sim dia não. De resto não a deixaremos entrar.

E - Então simplificando, pergunto-lhe qual o momento mais importante do seu reinado até ao momento.

N - Shhhh homem! Não falemos dessas coisas em público, não sabe que os castelhanos andam aí?

E [olha em volta a ver se vê alguém estranho]

N [baixinho] - Nuestros hermanos preparam uma invasão secreta!

E - Mas para quando? Não é melhor avisar o reino?

N - Se avisássemos deixava de ser secreta. Qual era a piada depois? Para que raio seria eu rei se depois todos sabem das crises. Só o rei as deve saber, nem que tenha que as inventar.

E - vejo o seu ponto, mas...

N - Mas nada. Olhe que tiro a coroa e você fica a falar sozinho!

E - Por quem sois Vossa Majestade? Falemos então sobre a dívida pública dos Condados, tem alguma coisa a dizer?

N - Tenho, mas não digo. Os castelhanos podiam ouvir. Mas vou criar um Conselho para pensar nisso.

E - Isso dos castelhanos já parece uma desculpa esfarrapada para tudo.

N [tirando a coroa] - Não ouço nada!

E - Pronto Vossa Majestade, ponha lá a coroa, que eu mudo de assunto. Diz-se que Vossa Majestade cria muitos Conselhos que ninguém sabe para que servem.

N - Servem para apaziguar os críticos. Quem me critica, pimba, passa a Conselheiro Real. Nunca mais se queixam.

E - E há espaço para tanta gente?

N - Porque pensa que mandei fazer um Palácio Real novo? 272 das salas são para Conselhos. Ainda só tenho 121 ocupadas, há espaço sim. Ainda sobram mais de 100 para os beija-mão privados.

E - E vossa Majestade consegue ouvir o que todos os Conselheiros dizem?

N - Só ouço quando tenho a coroa na cabeça. Mas raramente a levo para os Conselhos. Falando nisso, deixe-me tomar uma nota sobre um novo Conselho. Oh Ambrósioooooo! Amobróooosioooo! Anda cá filho!

[um senhor baixinho emperucado, segurando muitos selos e resmas de papel aproximou-se solícito.]

N - Escreve aí Ambrósio: Criar o Conselho de Estudo de Convites para o Palácio Real... sim que ando a convidar gente a mais.

E - Mas o Secretário Real não era o Conde Vitor Pio?

N - Oh homem, você pensa que me lembro de toda a gente que nomeio? E eu lá os nomeio para que trabalhem? Acha que confio nalguém? Quero é que fiquem calados. Além disso o Ambrósio já está comigo há anos e faz tudo o que eu mando. É assim como o Syl.

[o pincher rosnou ao entrevistador ao ouvir o seu nome]

N - Cala-te Syl que dou-te uma medalhinha nova.

E - Realmente eu gostaria que Vossa Majestade explicasse os Conselhos forma mais clara, assim como se eu fosse uma criança de 6 anos...

N - Criança? Onde, onde? Eu adopto... crianças, crianças, e de 6 anos? Gosto, gosto! Onde? Onde?

E - Vossa Majestade, vou ignorar esse comentário. Falemos então do novo Conselho da Nobreza. Não vem colidir com o existente Conselho de Sintra?

N [exaltado] - Colidir? Colidir? Mas você não lê os regulamentos? Está tudo claro! O Conselho da Nobreza faz nomeações a pedido do monarca, e o Conselho de Sintra faz momeações após consular o monarca, por fim a Corte dos Nobres pede parecer ao monarca para indicar ao Conselho de Sintra uma opinião que depois passe pelo Conselho da Nobreza. Esta pode ainda sugerir revogações se tal for vontade do monarca, que as comunicará à Corte dos Nobres, que por sua vez a pedido do seu Presidente pedirá avaliação ao Conselho de Sintra, cujo Presidente, após consultar a Heráldica, avaliará. O Conselho de Sintra decide ainda na questão dos títulos, se tal for vontade do monarca, após ouvir a Corte dos Nobres a qual votará propostas a ser discutidas posteriomente no Conselho de Nobreza, a menos que sejam vetadas pelo monarca, altura em a Corte dos Nobres revogará uma decisão do Conselho de Sintra o qual em conjugação com o Conselho de Nobreza emitirá um parecer que o monarca enviará ao Presidente da Corte dos Nobres. É bastante simples.

E - Sim, agora que traduz por miúdos?

N - Miúdos? Onde? Eu adopto! Mas não me interrompa que não acabei... Depois há as questões heráldicas, que estão sob a alçada da Heráldica Portuguesa a qual é autónoma, respondendo apenas ao Conselho de Sintra, à Corte dos Nobres, ao Conselho da Nobreza e ao monarca. Quando o desacordo for total, usa-se o sistema de moeda ao ar. Moeda não, um escudo mesmo, que nem moedas temos.

E - Não seria mais simples Vossa Majestade não procurar ter todos esses poderes?

N - Ai que você me começa a parecer um rebelde. Amanhã mando aqui o Psycorps e fazemos deste jornal vila franca.

E - É por atitudes dessas que os seus críticos dizem que Vossa Majestade fala como se tivesse o rei na barriga.

N - Olhe, isso é uma grande incoerência. Rei sou eu, e rei na barriga, só se fosse a minha mãezinha, mas eu nunca a conheci.

E - É de facto um mistério esse da sua ascendência, pois parece que ascende de um outro Nortadas, que alguns dizem ser a mesma pessoa.

N - Claro! Eu sou aquele que é, que sempre foi e será. Gerado e não criado. Sempre existi e existirei.

E - Isto é, nasceu de mãe incógnita, e não acredita em sexo?

N - Oh homem, acha que se eu acreditasse em sexo, precisava de andar a adoptar as crianças dos outros?

[O guarda Antunes, chega ao local da entrevista com um ramo de flores que entrega a Nortadas]

E - Afinal, mesmo sem acreditar nessas coisas, parece ter admiradoras que ainda lhe enviam flores.

N [após ler o cartão] - Não! São flores do John_of_portugal, em mais uma tentativa para ser Marquês. O homem não desiste. Já se ofereceu para me beijar os pés, para me empoar a peruca, e para dar miminhos ao meu cão - muito gosta ele dos miminhos do meu Syl.

E - Então vossa Majestade é incorruptível, e não deixa que subornos comprem a sua influência?

N - Na verdade ele ainda não fez foi o que eu pedi. Se o fizer passa logo a Marquês.

E - E o que é isso?

N - Simples! Basta deixar-me adoptar a filha dele. Como eu gosto da Anne... crianças, crianças... adoro adoptar crianças! Adoro!

E - E quanto à famigerada constituição cujo último livro ainda não foi aprovado?

N - Bom, a Constituição foi escrita de modo a garantir que eu governaria com todos os poderes a que tenho direito. A partir do momento em que ninguém mais se me opôs, para que precisamos dela? Afinal um bom governador não necessita de papéis. Acha que Jah tem uma constituição a dar-lhe poder no céu? Use o bom senso homem! Eu nunca gostei de papeladas.

E - Não?

N - De papéis não. Gosto mais de decretos, éditos, regimentos, regulamentos, princípios, estatutos, leis, ordenações, capitulares, cartas, actas, deliberações, certificados, declarações, disposições, diplomas, contratos, tratados, procurações, apólices, acordos, regras, facturas, legislações, proclamações, mandatos, títulos, normas, guias, propostas, mandamentos, ordens, requerimentos, recibos, epístolas, autorizações, providências, concordatas, certidões, atestados, pareceres, promulgações, missivas. Mas de papéis gosto pouco.

E - Quer dizer-nos qual foi o momento mais difícil do seu reinado?

N - Um dia passei por Viseu e vi o Biagio. Vomitei logo. Foi um momento difícil. Fiz logo daquilo vila franca!

E - E para terminar, que mensagem quer deixar aos portugueses para o futuro.

N - A quem?

E - Aos portugueses, o seu povo, os habitantes deste reino!

N - Ah esses! Desculpe, para mim são todos ou mineiros ou rebeldes, tinha-me esquecido desse nome. Ora bem, digo-lhes: "Mal eu morra, procurem logo alguém muito muito parecido comigo. Será de certeza um senhor inteligente, carismático, com conhecimentos de tudo. Façam sempre o que ele manda, e verão que eu... perdão, que ele, vos guiará como um messias. Não pensem em política, vocês não percebem nada disso. Sigam esse senhor, sim?

[Um cheiro nauseabundo invade a redacção, e ouve-se outro jornalista, que olha desolado a sola do sapato coberta de uma matéria pegajosa castanha]

Outro Jornalista - Quem trouxe o raio do cão? Está a cagar isto tudo.

N - Queiram desculpar! Quando ele sente que eu estou a ser atacado, fica nervoso e não se controla. Anda cá Syl, só fazes porcaria, e depois eu é que tenho que limpar não é? Raios parta o cão, já não te dou o báculo de bispo para brincares!

[Nesse momento ouve-se uma voz fantasmagórica, e um vulto envolto num manto negro avança pela redacção.]

Fantasma - Uhuhuhuhuhuhuhuh!

E - Oh meu Jah que a nossa redacção continua assombrada. Será o fantasma da Milena?

F - Não, meu grande parvo, não vês que eu sou a morte? Venho buscar o Nortadas! Nortadas Chegou a tua hora, trago aqui o documento final que põe fim à tua vida. Vem comigo sem resistência!

N - Ora vejamos, o documento não está segundo a constituição, e a senhora morte nunca foi reconhecida como órgão de soberania nacional. E pior, onde estão selos certos aprovados pela Heráldica? Queira desculpar, mas a senhora morte é uma fraude. Se continuar com as ameaças mando-lhe o Psycorps e ele faz da morte vila franca. Ai faz, faz!

5 comentários:

  1. Brilhante como sempre xD

    Ri-me do inicio ao fim.

    Continuação de bom trabalho ;)

    MissMoon

    ResponderEliminar
  2. KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK

    ResponderEliminar
  3. Adoreiiiiiii
    Meus parabéns a redação!
    Alegrou minha noite.

    Amigo Solitario

    ResponderEliminar
  4. ai eu chorei a rir...

    ResponderEliminar
  5. Gostei muito!

    Ass.: Fantasma da Jujuba :)

    ResponderEliminar

Parece que algumas pessoas que usam o Internet Explorer não conseguem comentar. Se for esse o seu caso, tente com Firefox, que tem um melhor sentido de humor.