Sexta-feira, 4 de Junho de 2010
No número inicial entrevistamos os três condes em exercício no Reino de Portugal: Conde Nortadas de Coimbra, Conde Dardos do Porto e Condessa Micae de Lisboa.
No número inicial entrevistamos os três condes em exercício no Reino de Portugal: Conde Nortadas de Coimbra, Conde Dardos do Porto e Condessa Micae de Lisboa.
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Conde Nortadas (Coimbra)
Nortadas - Acho muito engraçado que o senhor me faça essa pergunta, muito engraçado mesmo. Acha que é isso que vai ajudar o Condado?
Entrevistador - Mas caro Conde, eu ainda nem perguntei nada...
N - Lá vem você com teorias pseudo-intelectuais sobre a necessidade de fazer uma pergunta para obter uma resposta. Queira-me dizer, em que Decreto isso está? Na LOC? Na Lex? Na Constituição? Decerto em nada que tenha sido aprovado por mim, e acredite, se não foi aprovado por mim, então é inconstitucional!
E - Caro Conde, apenas queria algumas opinões suas acerca do actual estado do Reino de Portugal.
N - Acho mesmo muito engraçado que me pergunte a mim sobre o Reino de Portugal. O que tenho eu a ver com os estrangeiros?
E - Mas conde, nós somos parte integrante do Reino de Portugal.
N - Do modo como interpreto a nova Constituição é o Reino de Portugal que faz parte do Condado de Coimbra.
E - Mudando de assunto, quer comentar a sua nova proposta para que a administração do condado seja partilhada por mais pessoas que só os 12 conselheiros.
N - É simples e só um ignorante não entende. Se todas as pessoas do condado tiverem responsabilidades na governação, todas serão consideradas culpadas das asneiras que me imputam. Ora uma culpa dividida por 1000 pessoas é insignificante. Isto é, é impossível que eu venha a ter qualquer culpa importante daqui para a frente.
E - Podemos entender daí que tenciona ser Conde por muito mais tempo?
N - Oh homem, mas você já me viu fazer mais alguma coisa do que ser Conde? Acha que sei fazer mais alguma coisa? Não é claro que nasci para os decretos? Acho muito engraçado!
E - Podia-nos descrever o seu dia de trabalho?
N - Geralmente acordo às 5 atormentado por uma ideia nova. Corro aos Paços do Condado para a pôr em prática. Naquelas alturas do ano em que não sou Conde, não me deixam entrar, e aí resta-me o terrorismo institucional. Mas nos momentos do ano em que sou Conde escrevo logo um decreto. Pelas 8 já provoquei a fúria de pelo menos 6 conselheiros por lhes ter chamado incompetentes. Às 10 passo pelas cortes para ver se há algum assunto não começado por mim. Se há declaro-o inconstitucional. À tarde vou para casa empoar a peruca, e recitar discursos em frente ao espelho.
E - Sonha sempre com decretos?
N - Não! Às vezes sonho com o Conde Abraz. Sonho que sou atacado à cabeçada por aquela careca reluzente. Acordo com suores frios. Corro logo a abraçar a minha peruca empoada. As carecas deviam ser proibidas. aliás, deixe-me ir pôr isso em decreto... deixe-me ir, que isto esteve longe de ser uma conversa de produtividade inigualável.
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Condessa Micae (Lisboa)
Entrevistador - Cara Condessa Micae, em primeiro lugar obrigado pela sua disponibilidade em conceder-nos esta entrevista retirando algum tempo da sua ocupada age...
[silêncio enquanto a Condessa saíu e voltou]
Micae - Desculpe, mas enquanto fez essa longa introdução tive tempo de escrever duas cartas, chicotear um conselheiro, e assinar 4 decretos, queira continuar, se faz favor!
E - Mas condessa, passaram cinco segundos, conseguiu fazer isso tudo?
M - Nunca duvide do poder de inalar pimenta!
E - E podemos saber quem foi o conselheiro que chicoteou desta vez?
M - Na verdade foi o meu cãozinho, que estava a roer um dos meus vestidos. Chamei-lhe conselheiro, pois assim posso ter ao menos um conselheiro fiel, que sabe ouvir calado, obecece a uma ordem, e não me morde quando menos espero.
E - Imagino... Mas, adiante, como descreve este tempo à frente do Condado de Lisboa?
M - Estar à frente é uma posição muito ingrata, começamos sempre a perguntar-nos quem estará a trás, e com que intenções.
E - Os conselheiros queixam-se da sua autoridade. Diz-se que nas reuniões do conselho proibe os conselheiros de dormir, de mexer nos dedos dos pés, ou até de atirar bolas de papel uns aos outros feitas a partir de decretos por aprovar.
M - É mentira que eu seja autoritária. Não volte a dizer isso! E sente-se direito enquanto faz perguntas! E arranje esse colarinho que está uma vergonha!
E - sim condessa, desculpe... É verdade que pratica dardos num alvo com o rosto da Baronesa Velentina?
M - Só às segundas-feiras. Nos outros dias da semana os alvos mudam. Ainda ontem o meu marido me ofereceu um alvo com o rosto do Reverendo Martimen, estou ansiosa para o experimentar.
E - Mas com toda a energia que se lhe reconhece, porque não a vemos mais vezes a liderar um exército?
M - Já tentei, mas o fumo vermelho que me sai da cabeça quando estou furiosa denuncia a posição de todo o exército. Já como Diaconiza esse rubor dá uma iluminação agradável à igreja, e o fumo substitui o incenso, o que até diminui as despesas do Condado.
E - Dado o saldo negativo que ainda se regista em Lisboa quer adiantar-nos se a aplicação de impostos está a resultar?
M - Tem sido insuficiente porque alguns prefeitos não sabem como os aplicar, mas agora temos um método de persuação implacável. Vou mandar a Baronesa Velentina recolher os impostos pessoalmente. Quem não pagar terá de ouvir os provérbios dela.
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Conde Dardos (Porto)
[Entrevista obtida através do muro do convento de Bragança]
Entrevistador - Conde Dardos, quer comentar porque razão entrou em retiro espiritual assim que foi reeleito Conde?
Voz do outro lado do muro [cantando] - O ignis spiritus paracliti...
E - Seria possível responder em português? Os seus eleitores querem saber se ainda voltará antes do final do mandato.
V [ainda cantando] - O spiraculum sanctitatis...
E - Está aí alguém que fale português?
V - Bom dia, quem é o senhor?
E - Disseram-me que podia entrevistar o Conde Dardos se estivesse junto ao muro do convento no terceiro carvalho a contar do riacho.
V - Conde Dardos não conheço. Aqui não há Condes, somos todos irmãos.
E - Nesse caso sabe-me dizer como posso encontrar o irmão Dardos?
V - Oh homem, porque não disse logo? O irmão Dardos sou eu. Isso do Conde é que me baralhou. Sabe, não me lembro de nada da minha vida mundana.
E - Nem se lembra dos motivos que o levaram a abandonar os Paços do Condado?
V - Os passos de quem? Homem, fale em latim, que eu dessa língua secular não percebo muito!
E [inventando] - Lembraris niet vita sua comus Condae?
V - Ahhh isso?... Não, não me lembro. Fui eleito foi?
E - Foi sim, e abandonou logo de seguida.
V - Em latim se faz favor.
E [inventando] - Electoratus foste, sed abandonatis in quel momentum.
D - Desculpe senhor, mas não entendo uma palavra dessa língua de cão. Porque não fala antes com um monge a sério. Eu aqui só limpo as latrinas.
E - Mas eu preciso de entrevistar o Conde eleito.
D - E eu preciso de uma pá nova que esta já tem buracos. Passe bem!
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